A VOCAÇÃO À LUZ DA FÉ



7 agosto, 2015


Vocação de Pedro e André

A vocação à luz da fé possui uma dimensão especial, pois a pessoa que vive a sua vocação com esse olhar da fé, ela é capaz de ir muito mais longe, do que o nosso olhar humano e a luz da razão nos mostra. E aqui não estou descartando a razão, ao contrário, todavia, sempre é bom unir razão e fé, pois já falava Santo Agostinho “intellige ut credas, crede ut intelligas – compreender para crer, crer para compreender”, pois fé e razão se completam mutuamente, já nos lembrava o Papa João Paulo II em sua Encíclica Fides et ratio.

Entretanto, limitar-me-ei a refletir uma vocação específica que é a nossa, a vocação sacerdotal, “o sacerdote, escolhido dentre os homens, é constituído a favor dos homens nas coisas que dizem respeito a Deus” (Hb 5,1). Por isso, o sacerdócio é sempre vocação, pois, sê se perder o sentido de vocação, perde-se também o sentido primeiro a que cada vocacionado é chamado a viver seu ministério a serviço do povo Deus, imitando o exemplo do Cristo “Bom Pastor”. De maneira que é impossível pensar a vocação separada da fé, pois se assim o for, tal pessoa será tão somente um “profissional” do sagrado, na definição específica do termo. Pois, com certeza a fé é o diferencial para nos ajudar a vivenciar no cotidiano nossa vocação, porque só assim vamos compreender seu significado mais profundo, a cruz que é inerente à missão, as renúncias que fazemos, na nossa liberdade de escolha para abraçar a vocação sacerdotal e como no salmo que ouvimos dizer “Eis que venho fazer, com prazer, a vossa vontade Senhor” (Sl 39,8a-9).

Ademais, sem a fé mais cedo ou mais tarde a nossa escolha vai parecer não ter sentido, e aí então, vamos ser um alguém frustrado na vida, e não veremos mais sentido na nossa opção de vida vocacional; não que a fé vá nos guardar de passar por situações difíceis, por crises, as mais diversas talvez, mas aí está o diferencial, “é feliz quem a Deus se confia” (Sl 39,5), a luz da fé, até mesmo a mais escura das noites de nossa vida, seremos capazes de ressignificar, para dar o rumo do qual se espera daquele que é consagrado para que por vocação levar aos irmãos o Sagrado – assim ajudá-los a experienciar a fé, a esperança e a caridade, as quais mais que pregador, mas por nossa escolha somos chamados pelo testemunho de vida anunciar.

Por isso, rogamos a intercessão de Maria Mãe do Redentor e suplicamos “Ó Princesa e mãe do Príncipe, pela tua intercessão, dá-nos ter a vida eterna, e no tempo a conversão” (LH, hino das vésperas. 22 de agosto). Assim possamos pela graça de Deus estar sempre à luz da fé revestido do homem novo, para não sermos surpreendidos na vida sem as vestes nupcial, conforme um dos convidados do relato evangélico (cf. Mt 22,1-14), ou seja, como vocacionados ao presbiterado e presbítero possamos revestir-se de Cristo de seus sentimentos de compaixão, de amor, de doçura, e ser capaz de perdoar como ele nos perdoou e continua a perdoar, de amar o nosso próximo como Ele nos amou, enfim tornar-nos outro Cristo, ser transformado Nele. Para tanto, só a luz da fé conseguiremos compreender e fazer isso como meta de vida vocacional.

Deste modo, nos esforcemos para vivermos nossa vocação sempre à luz da fé para sermos capazes de ressignificar nossas dores e angústias da caminhada formativa enquanto aspirantes ao presbiterado e presbítero. Pois, a missão é sempre de alguma forma terminar uma etapa e começar outra, sendo que a vivência da primeira etapa bem compreendida e assumida é condição para nos redefinir e viver as próximas. De forma que uma vocação bem vivida é sempre testemunho e convite a novos vocacionados, já nos lembrava o Papa Bento XVI no dia 12 de maio de 2007, na Basílica de Aparecida “o testemunho de um sacerdócio bem vivido dignifica a igreja, suscita admiração nos fiéis, é fonte de bênçãos para comunidade, é a melhor promoção vocacional, é o mais autêntico convite para que outros jovens também respondam positivamente aos apelos do Senhor. É a verdadeira colaboração para a construção do Reino de Deus”.

Portanto, ao terminar uso as palavras do Papa Francisco aos jovens no fim da JMJ que é também a todos nós: “Ide, sem medo, para servir. Ide, sem medo, para servir. Seguindo estas três palavras, vocês experimentarão que quem evangeliza é evangelizado, quem transmite a alegria da fé, recebe mais alegria. (…), não tenham medo de ser generosos com Cristo, de testemunhar o seu Evangelho”. Nunca nos esqueçamos de que a razão de nossa vocação está profundamente ligada à fé, sem a qual enquanto vocacionados ao presbiterado ou presbítero, com certeza nos perderemos pelos meandros do caminho da vida. Que São José e Santa Teresinha nos ajude a não perder o limiar de nossa vocação para que assim possamos estar entre aqueles que foram chamados e depois escolhidos porque nos fizemos estar com a veste nupcial.

Pe. Kleyber Freitas do Carmo, msj.



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